Os Peixes existentes no Estuário do Rio Tejo
Boa tarde, faz tempo que tinha este artigo para publicar, outras coisas se foram pondo pelo meio e acabou por ficar para trás, eis que está ai para quem queira ver.
Dentro de um Estuário, são muitas as espécies que
podemos encontrar. A diversidade é muito vasta mas entendo ser importante
dar a conhecer as suas características bem como o valor gastronómico dos peixes
que podemos encontrar e pescar. O objectivo é dar a conhecer o peixe e a forma como pode
ser pescado, não pretendo entrar no campo cientifico mas sim em questões mais
práticas. Vamos então ao que interessa.
Começamos por falar dos Peixes residentes no estuário, aqueles que nascem, crescem, reproduzem e morrem
dentro deste ecossistema, cumprindo o seu ciclo de vida dentro do Tejo.
Anchova ou Biqueirão
Espécie residente no Estuário do Tejo mais frequente
no mar da palha, é facilmente confundida com a Sardinha. Com um corpo achatado
pode atingir em média os 20 cm. Devido ao tamanho dos seus maxilares, permite
uma grande amplitude na abertura da Boca. Vive em grandes cardumes, perto da
superfície e alimenta-se de plâncton.
Valor gastronómico:
É uma das espécies residentes com
valor comercia, por ser utilizada na produção de conservas/enlatados.
Melhor altura do ano para a sua captura:
Todo o ano.
Melhores iscos a utilizar:
Capturada através de artes tradicionais.
Caboz
O Caboz, também
conhecido por cabeçudo, é um peixe de pequenas dimensões, entre os 12 e 15 cm. Tem
uma cabeça grande tendo em conta o tamanho do corpo. Um peixe de cores escuras
e em alguns casos sarapintadas. As zonas onde reside são caracterizadas por
rochas que lhes dão abrigo para a vida.
Valor
gastronómico:
Esta espécie raramente
é usada na alimentação pelo que não tem valor gastronómico e comercial.
Melhor altura do ano
para a sua captura:
Pode ser capturado o
ano inteiro embora só é procurado como isca para a pesca.
Melhores iscos a
utilizar:
A melhor forma de
capturar é durante a baixa-mar, remexendo algumas rochas que entre a sua base e
o solo retenha alguma água.
Cavalo-marinho e Marinha
Mesmo sendo da mesma
família tem as suas diferenças. O Cavalo-marinho, com um comprimento na ordem
do 15 cm, apresenta a cabeça inclinada, formando com o corpo um ângulo agudo,
um focinho comprido e não apresenta barbatana na cauda. As Marinhas, são normalmente
um pouco mais compridas, tem barbatana caudal e exibem uma posição mais linear,
não tão enrolada como o seu semelhante. Gostam de habitar junto ás algas ou limo
flutuantes e alimentam-se de pequenos crustáceos.
Valor
gastronómico:
Não são utilizados na
alimentação.
Peixe-rei
Não tenho foto de minha autoria
O género que falamos pode atingir um
comprimento máximo de 20 cm. A sua cor é bastante clara, o dorso ligeiramente
esverdeado e a zona do ventre prateada. Estas duas regiões estão separadas por
uma lista cinza brilhante. Pode ser visto em fundos de areia e também fixados
junto a pontões ou vegetação densa, onde fixa os seus ovos por
altura da postura. Alimenta-se de pequenos crustáceos. Até à relativamente
poucos anos ainda se via a sua captura neste Concelho do Seixal, pelas redes de
malha miúda designada Tapa-Esteiros, hoje proibida.
Valor
gastronómico:
Trata-se de um peixe
com algum interesse comercial, hoje já não tem procura por parte dos pescadores
locais.
Melhor altura do ano
para a sua captura:
A sua captura nos dias
que correm está finda, isto também devido às restrições de lei nas formas como
eram apanhados.
Xarroco
(O Tamboril do Tejo)
Valor
gastronómico:
Não é um peixe muito
querido para o prato mas há que não dispense um ou dois pequenos para por na
caldeirada. Também se come numa massada, é um peixe muito branco. O seu valor é
reduzido, pois o pessoal prefere mesmo o Tamboril mas por vezes encontra-se à
venda. Sei que é comprado nas lotas aos pescadores profissionais mas penso que
para farinhas de peixe.
Melhor altura do ano
para a sua captura:
Pode ser capturado
durante todo o ano, tem uma maior incidência nos meses de verão.
Melhores iscos a
utilizar:
Para este predador,
qualquer coisa serve mas a sardinha é rainha. Também existe quem os apanhe
durante a baixa-mar, pode ser encontrado debaixo de pequenas pedras junto ás
margens e pequenas poças que ficam a descoberto, neste caso são apanhados com
uma gancheta.
Acabamos de falar nos
residentes e é altura de passar a todos os que fazem dos estuários os berços
para crescer.
Muitas são as espécies de peixes
que nascem em pleno oceano Atlântico, sobem o conhecido Canal da Barra, toda a
zona do Bugio até ao Mar da Palha, e procuram abrigo dentro dos estuários
onde passam os seus primeiros tempos de vida, que pode se
prolongar por mais de um ou dois anos. Hoje em dia, com as águas mais limpas
são notados enormes exemplares de predadores que tem os peixes do estuário na
sua cadeia alimentar.
Robalo
Predador de peso, onde houver cardumes de peixe
pequeno ele está lá. Atinge 1m comprimento. O corpo apresenta o ventre prateado
e o dorso cinzento. Vive em cardume e alimenta-se de pequenos peixes, camarão
entre muitos outros, não fosse ele um voraz e temível predador.
Valor gastronómico:
Elevado valor
comercial e gastronómico. Muito procurado por que gosta de uns bons lombos
quando cozinhado ao sal. Uma das espécies mais procuradas por quase todos os
pescadores que por aqui passam os seus dias de lazer ou trabalho.
Melhor altura do ano
para a sua captura:
Pode ser pescado todo
o ano. Seja no verão ou inverno lá se vão vendo bons exemplares.
Melhores iscos a
utilizar:
São muitas e diversas as formas e iscos que
podemos utilizar para apanhar um Robalo, entra para comer peixe e camarão, quem
vier com umas amostras e com camarão vivo tem apanhado uns bons peixes. Os mais
usados pelos pescadores é o casulo do local, ganso local, caranguejo. Contudo,
podemos usar outros anelídeos, sardinha e etc. No caso da sardinha, geralmente
o xarroco chega primeiro. As Amostras também são uma solução para pescar este
predador, o pessoal do Spinning tem tido muitas alegrias por estas bandas.
Sargo
O Sargo Vulgar é o que vai aparecendo por cá, de
cores cinzento prateado com as listas negras. Já se tem apanhado exemplares com mais de um quilo
mas é mais comum sair de dimensões mais pequenas. Como mariscador que é não
podia deixar de ser visto junto a pontões ou zonas com rocha.
Valor gastronómico:
Bom valor gastronómico. Sendo um mariscador, a
sua carne tem um sabor muito agradável.
Melhor altura do ano para a sua captura:
Pode ser visto todo o ano. Pela altura do verão,
são notados muitos juvenis, sendo a altura em que se podem apanhar mas em
tamanhos muito pequenos, de noite podem sempre aparecer os mais jeitosos que
fazem a alegria de quem pesca à bóia.
Melhores iscos a utilizar:
O Sargo por estas bandas come bem os anelídeos mais vulgares por cá como é caso do casulo e ganso mas também funciona muito bem a camarinha lingueirão e o caranguejo. Camarinha e minhoca do lodo pode fazer-se uma pesca à bóia, de noite e os outros iscos na tradicional pesca ao fundo.
Dourada
Podem ser vistas com 50 cm de comprimento, bons exemplares tem entrado no
Tejo e visitando o Seixal embora a sua maioria seja peixe juvenil. De corpo
largo de cores cinzenta e prateada e no dorso um tom mais negro. Facilmente
conhecida pela mancha negra na lateral, pela mancha dourada entre os olhos e a
sua dentição que chaga a assustar.
Valor gastronómico:
Muito alto. Já entra nos peixes nobres. Com 400
ou 500 gramas pode ser escalado e colocado no carvão. De maiores dimensões sal
com ela, fica uma pequena maravilha. Também pode ser visto no blog a receita de
peixe ao sal, muito bom.
Melhor altura do ano para a sua captura:
Os melhores troféus tem sido apanhados nos meses
mais quentes até que o frio corre com elas para o mar. Peixe que procura águas
calmas para se alimentar, não precisando que o mar arranque o marisco das
rochas ela mesma trata do assunto com as suas fortes mandíbulas. No inverno lá
vai aparecendo a espaços.
Melhores iscos a utilizar:
Gosta muito de anelídeos em especial o ganso mas também com casulo. O caranguejo
de dois cascos ou mole também se mostra muito eficaz. Por aqui a pesca é feita
ao fundo podendo por dois anzóis embora o pessoal opte por um anzol com um
estrálho mais comprido.
Salema
Peixe com um formato parecido com a Choupa
embora seja mais prateado com umas listas longitudinais amarelas. Pode atingir
45 cm de cumprimento e 2 kg de peso. Este peixe tem duas características que os
diferem de muitos peixes. São hermafroditas, começando por ser macho até aos 4
anos de idade alterando para fêmea o resto de vida útil. A segunda tem a ver
com o facto de aquando juvenis são carnívoras, na maioridade passam a ter uma
alimentação vegetariana, baseada em algas. Muitos dos pescadores procuram este
peixe pela luta que proporcionam a quem as tem ferradas no anzol, faz lembrar a
nossa amiga Dourada.
Valor
gastronómico:
Não é um
peixe de elevado valor ou de grande procura embora seja visto nas bancas em algumas alturas do
ano.
Melhor altura do ano
para a sua captura:
No Verão, altura em
que existe muito limo e anelídeos. É nesta altura que vai aparecendo em maior
numero aqui pelo Seixal
Melhores iscos a
utilizar:
A Salema pode ser
pescada à bóia com "limo verde tipo tabaco" . Também come outros
iscos como é caso de anelídeos, mais propriamente a minhoca do lodo.
Continua...
Nuno Fernandes (nuno perto do mar)